15 julho 2014

[Escreve aí] Sarah Marques



Olá, Encantados!
Depois de 2 meses sem o Escreve aí , estamos de volta com uma convidada muito especial! Sarah Marques do blog Endless Poem!
Para quem ainda não viu a coluna ou não se lembra, no Escreve aí, propomos um tema a um escritor ou blogueiro(a) e ele(a) escreverá um texto narrativo ou descritivo (ou o que ele(a) bem quiser) falando sobre esse tema.
Então vamos conferir o tema dado a ela e o texto: 

" Um corpo sem alma, uma vida sem sonhos."


Anna

Ela acordou como se esperasse que não. Abriu os olhos devagar, percebeu a fria claridade que invadia o quarto por detrás da cortina branca. Sentiu o suor no rosto. Aquela época do ano era especialmente cruel. Estava abafado até mesmo debaixo do chuveiro. Mas ela não se importava. A ducha foi rápida. Estava atrasada, como sempre. Mas ela não se importava. Que ligassem e a despedissem, seria um tempo a mais na cama, um tempo a mais fingindo não existir. Comeu a torrada já meio murcha de três dias, pegou a bolsa e foi saindo de casa. Esqueceu as chaves e voltou para pegar.
Entrou no carro, ligou o som. Barulhos e mais barulhos. Não importa o que tocasse, não se encaixava no que ela estava sentindo. Não estava apaixonada, não estava desiludida por nenhum amor do passado, não estava em clima de festa. Não estava nem ao menos triste. Seu humor era resignado. Desligou o som. Olhava para fora do carro e tudo que via era um mundo em que ela não se encaixava. Ela era como uma intrusa, um alienígena de outro planeta que, por engano, caiu ali e precisava conviver com tudo aquilo. Com todo aquele planeta horroroso. Com todas aquelas pessoas. Ela sentia nojo e cansaço. Não via a hora de tudo aquilo terminar. Mas, pelo visto, não seria hoje.
Com um muxoxo de desaprovação, ligou o carro, deu a partida e saiu da garagem. As ruas não eram tão horríveis, porque onde ela morava era distante de tudo. Encontrava com animais e uma infinidade de mato até chegar a algum lugar com mais pessoas, e mais vozes, e mais barulho. Eles a faziam desejar voltar pro brejo e ficar por lá. De as coisas ruins, a menos pior. Estacionou, passou na cafeteria do primeiro andar. Gostava do sabor amargo do café logo cedo, antes de encontrar os abutres. Ele a preparava para o dia de lixo que viria pela frente. Não que ela se importasse. Mas era necessário ainda aguentar. Não por muito tempo, agora ela sabia.
Entrou no elevador estranhamente vazio. Aquela hora da manhã era quase uma disputa. Olhou para o espelho e mal viu seu reflexo. Era um corpo sem alma lhe encarando de volta. Deu de ombros. Já sabia de sua condição. Não iria se fazer de coitada. Seus dias contados até mesmo lhe reconfortavam, pois pensar que nada daquilo duraria para sempre era o melhor pensamento que sua vida sem sonhos podia desejar. Não almejar, veja. Uma mulher perdida no seu tempo e no seu espaço não almeja, não sonha, não espera nada que não seja o fim. Talvez esse fosse seu maior sonho, não sonhar.
Saiu do elevador e deu de cara com um andar fervilhando. Gente feliz, gente triste, gente que se importava o suficiente para fazer as coisas acontecerem. Ela andou até sua baia, pôs a bolsa no canto da mesa e ligou o desktop. Não disse bom dia para ninguém e ninguém se preocupou em dar-lhe bom dia. Não importava ser amigo de uma mulher morta. Ela colocou os fones e começou a trabalhar, e nunca olhou para trás.


Palavras da Sarah sobre o texto:
Oi, pessoal do Encantos Paralelos! Primeiramente preciso dizer que é uma honra enorme estar escrevendo aqui na coluna de um dos blogs que eu mais considero! Vocês são demais, em especial ao Victor Marcos e ao Victor Rosa que sempre acreditaram no meu potencial e no meu trabalho. Escrever é sempre uma delícia e escrever esse textinho especialmente para vocês foi muito bom! Achei um tema um pouco triste, então quis suavizá-lo um pouco, o que deixa um suspense no ar. Vocês gostaram? Eu amei e estou muito contente de ter participado! Quero sempre mais! Obrigada e obrigada!!


Sarah Marques tem 22 anos, carioca, mas não muito. Nem muito feliz nem muito triste. Adora ler e escrever. Faz Farmácia mas quer, um dia, ser médica. Tem um blog onde posta seus textos e resenhas de tudo que lê, o Endless Poem (porque ela também ama poemas): www.sarahmarques.com.br Passa lá!




O que acharam? Eu adorei *-*  Comentem suas opiniões!
Não esqueçam do ask.fm, onde você pode mandar sua sugestão de tema para o Escreve aí, não perca tempo e faça parte do Encantos . Vá na lateral e mande pra gente (coloque seu nome para colocarmos na coluna)! 
Lembro que próximo mês pela primeira vez o Victor Rosa estará a frente da coluna. Quem será o convidado(a) dele? Só esperar e ver!
Abraços! E até logo!

4 comentários:

  1. Oi Victor!
    Ai, muito obrigada! Eu amei, amei, amei escrever para o Encantos Paralelos!
    Vocês são demais!
    Beijão

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  2. Oi Victor!
    Que ideia interessante. É sempre muito bom valorizar os pequenos autores nacionais.
    Gostei da escrita dela. Espero poder ler mais.
    Abraço!

    "Palavras ao Vento..."
    www.leandro-de-lira.com

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  3. Olá Victor!
    Adorei o texto da Sarah! E achei o Escreve aí uma ideia fascinante, parabéns!

    http://leituraa1000.blogspot.com.br/

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  4. Como a própria Sarah falou achei o tema tristinho, mas gostei do rumo que ela deu a história.
    Essa coluna é demais. Parabéns e sucesso!!!

    Leituras, vida e paixões!!!

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